18.12.07

Não é novela

A atriz Letícia Sabatella participou em Brasília de ato contra a transposição do rio São Francisco. A bela está entre os muitos apoiadores da greve de fome do bispo de Barra, dom Luiz Flávio Cappio.

Mais, a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) deu respaldo ao disparate e ainda conclamou os fiéis católicos a se unirem ao bispo no jejum.

Intrigante é que vivemos em um país laico, onde a Igreja e o Estado estão separados, faz tempo isso já, mas vez ou outra a Igreja Católica, principalmente, gosta de se reafirmar com o dona do poder.

Não discuto o projeto de transposição, se é justo ou não. Porém, se o governo decidiu por fazer a obra, e se ela já passou pelo crivo do congresso nacional, devemos torcer para que ela seja benéfica a quem sofre com a escassez de água no Nordeste e para que não seja alvo das picaretagens e corrupções corriqueiras.

Que a sociedade, Igreja e quem mais quiser protestar tenha espaço para fazê-lo, mas sem picuinhas e chantagens, como é o caso do jejum de dom Luiz Flávio Cappio.



Imagens: Folha de S. Paulo e Uol

3 comentários:

Unknown 18/12/07 20:49  

Ah!! Fala sério!! Quem Sabatella pensa que é na noite???

Angelina Jolie???

E eu fico com fome só de ler que esse Padre está em greve de fome!

bye

Anônimo,  19/12/07 01:38  

Essa questão é bem complicada. Envolve milhares de aspectos políticos, sociais e econômicos. De qualquer forma eu concordo com a discussão levantada sobre a Igreja Católica e o estado laico.

Filipe 19/12/07 10:15  

Ei Alberto,

já disse outras vezes aqui que adoro seu blog e seu ponto de vista diferente das questões que interessam aos gays e cidadãos em geral. Porém, acho que seu comentário neste post foi sem sentido e infeliz.

Também acho um disparate a CNBB apoiar o 'suicídio' deste bispo/padre/whatever, sendo que até o Vaticano já se posicionou contra. Porém, assumir uma posição com relação à situação (transposição do Rio) não é, de forma alguma, um problema! Isso não viola em nada a idéia de Estado de Direito, laico e democrático.

Estado laico é o Estado sem religião, é o Estado que dá a seus cidadãos a liberdade de optar que religião seguir e que estabelece suas políticas e suas leis sem privilegiar uma religião específica. Os Estados muçulmanos, por exemplo, não são estados laicos, pois têm uma religião oficial, imposta aos cidadãos, e suas leis são feitas com forte viés religioso, impondo costumes e comportamentos (como usar o véu, por exemplo).

Manifestar-se em favor ou contra qualquer coisa – a transposição do Rio, o uso da camisinha, o aborto, etc... – é direito fundamental e inegável não só à Igreja Católica, mas como aqualquer outra Igreja e também a associações, órgãos de mídia e qualquer cidadão! É liberdade de expressão e defesa de valores pessoais, da visão de mundo que molda todos nossos pensamentos.

Não é o ponto aqui o mérito das posições defendidas – por exemplo, acho absurdamente irracional a proibição do uso da camisinha pela Igreja! -, mas sim o direito de defender seus valores e suas idéias sem que isso afete de qualquer forma os fundamentos do Estado de Direito.

Outro erro seu foi dizer que ‘não discute o projeto porque já foi decidido pelo Governo, aprovado pelo Congresso, então que seja feita’. Minha posição é totalmente oposta. Acredito que o papel da sociedade civil organizada (e seus atores sociais, como as igrejas, associações, mídia, cidadãos comuns, lideranças sociais, pessoas com papel de influência na sociedade – entre eles, os atores, por que não?) é justamente de fiscalizar as ações do governo e evitar que sejam praticadas ações que vão de encontro aos valores e objetivos da sociedade. O fato de ter sido aprovado pelo governo não significa que é bom para a sociedade. E cabe a nós estarmos sempre atentos a estas questões e manifestarmos nossa indignação quando acreditarmos que essas práticas violam direitos humanos, valores sociais e a própria lei.

E a greve de fome não é chantagem, picuinha ou ato de rebeldia transviada. Muito pelo contrário, é uma forma legítima de pressão social e de reinvidicação. É uma atitude simbólica da luta contra as injustiças sociais e políticas. É poderosa, por mobilizar a atenção das pessoas de forma não violenta, e ‘sagrada’, por envolver o sacrifício feito por uma pessoa inocente para o benefício de muitos. O grevista tem consciência de que o jejum poderá levá-lo à morte, mas acredita que a causa merece o sacrifício e a greve é o último caminho possível. Se não fosse por esta atitude deste padre, provavelmente a transposição estaria acontecendo sem que ninguém soubesse...

Por fim, como disse o colega acima, a questão é muito mais complexa, por envolver questões econômicas, sociais e, acima de tudo, política. Envolve a questão ambiental e o impacto que isso vai ter para os ecossistemas entremeados pelo curso do rio. Envolve o equilíbrio ecológico da região. Envolve a sobrevivência de pessoas que dependem da água do rio e da pesca para ter o que comer e beber. Envolve questões agrícola-econômicas, como o uso não sustentável dos recursos hídricos para irrigação de regiões agrícolas (que usam água em quantidades absurdas) em detrimento da agricultura de subsistência. E isso também reflete na política (ou seria politicagem?), afinal o Congresso é formado em sua maioria ou por pessoas que têm terras nas regiões que vão ser beneficiadas pela transposição, ou por pessoas que representam os interesses desses beneficiados.

Não sou contra a transposição. Acredito que foi pensada, discutida, planejada pelo governo por muito tempo. Só que acredito que nem tudo é tão cor-de-rosa ao ponto de que ele não foi moldado em função de valores (morais e econômicos) que beneficiassem os que já são beneficiados pela estrutura político-legal do nosso país. Concorda?

E acredito que qualquer forma legítima e pacífica de protesto é válida e necessária.

Desculpe-me pelo comentário looooongo, mas não resisti... Muita coisa pra falar! Ahahah

Abraço e continue assim, adooooro seu blog!

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