Uma alma anárquica

"Batman - o Cavaleiro das Trevas" ("The Dark Knight", EUA, 2008, 122 min, Ação/Drama)

Tudo o que se leu sobre a seqüência de "Batman Begins" é verdade. O diretor Christopher Nolan lapidou seu diamante bruto e fez do segundo filme uma aula magistral de abstrações, anarquia, medo, vilania, repugnância e assombro.

"Batman - o Cavaleiro das Trevas" poderia se chamar "Coringa". Já não é inovador elogiar a atuação de Heath Ledger - ator morto em janeiro deste ano por overdose acidental de remédios. Mas não tem como fugir do lugar comum...

O longa é todo sobre Heath e como o seu Coringa aguça a maldade em cada ser. Seu riso histérico e aterrador provoca as mais diversas sensações em seus interlocutores e faz a platéia sorrir também, sem, no entanto, saber se ri por considerar engraçado ou incômodo.

Tiques, expressões, postura, empostação de voz. Um trabalho redondo que não desperdiça fala ou aparição. É impactante. Faz você torcer e tremer. É o diabo que impõe aquela dose de adrenalina que nos faz agir por impulso. O Coringa ali é uma força da natureza. Intempestiva, visceral e inabalável. Sem lógica, nem explicação. Apenas é.

Para confrontá-lo, um Batman (novamente vivido por Christian Bale) dividido entre sua caçada contra o crime e seus próprios delitos, cometidos em sua luta diária, e um promotor íntegro e correto: Harvey Dent (bem representado pelo convincente Aaron Eckhart).

Não preciso dizer que tudo desanda e as coisas se complicam e se tornam mais densas cada vez mais nesta trama, onde nem tudo é o que parece ser, de fato.

Longo, com reviravoltas bem planejadas e diálogos seguros, o filme faz jus ao sucesso retumbante de bilheteria. Michael Caine, Maggie Gyllenhaal (substituindo a sem graça mãe da fofa Suri, Kate Holmes), Gary Oldman, Morgan Freeman e Cillian Murphy completam o estrelado elenco de um dos filmes mais complexos feito sobre um superherói.