1.6.09

A valentia de Shirley, que se apaixonou pela simples ideia de viver...


18h03.

Ana não vem mais.

Do tempo chuvoso e cinzento --que dá um charme melancólico ao centro velho de São Paulo-- ao frio e ao desencontro, a noite de ontem (domingo) não inspirava bons presságios. No terceiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil, o terceiro sinal soou e as luzes se apagaram. 

Poucos objetos no palco: uma parede branca, uma mesa, alguns utensílios de cozinha e uma cadeira. A trilha sonora tem o toque doce de Roberto Carlos. Na boca de cena, Betty Faria era Shirley Valentine.

"A menina dos nossos olhos, com 40 anos de carreira, musa do cinema nacional, 26 novelas, 19 filmes e muitos sucessos, volta à cena teatral", diz o programa do espetáculo "Shirley Valentine", de Willy Russell, em cartaz até 21 de junho. O papel não mente. 

De volta ao palco após muitos anos, em um monólogo, Betty encarna uma heroína adorável. Mãe de dois filhos já adultos e esposa de um marido, que o passar dos anos tornou obtuso, Shirley sonha com a felicidade. Sacrificou diversas vontades em prol do projeto classe média de um família estruturada. Agora, com seus quarenta e poucos anos fala com as paredes e percebeu que não viveu.

É por meio de uma amiga, que lhe oferece uma passagem para a Grécia, que ela tem a chance não de recuperar o tempo perdido, o tempo, sabe bem ela, só passa uma vez. Na viagem, terá a oportunidade de se redescobrir. 

E ela vai. E no processo que dura, apenas um hora, Shirley Valentine (nossa valente), ajuda a plateia a refletir sobre as pequenas e as grandes coisas de cada um de nós. Do sonho ao êxito, da luta à abnegação. 

A protagonista sorve uma taça de vinho como quem suga o ar pela primeira vez. Faltava-lhe oxigênio. Faltará para o público, que o perderá gargalhando ou se emocionando num trabalho 
minuncioso da atriz e da direção, a cargo do também ator Guilherme Leme. 

Betty Faria se reinventa nessa mulher doce e aventureira, reinventa seu próprio passado de atriz e comove. Valentia é tudo que precisamos para tornar um sonho em objetivo concreto. E Shirley é valente. É forte como um Dom Quixote, mas não luta contra moinhos de vento, luta a favor da vida e, no caminho, acaba vivendo.


"E eu me apaixonei pela ideia de viver..."


"Shirley Valentine"
De quinta a sábado, às 19h30; e aos domingos, às 18h. No Centro Cultural Banco do Brasil (r. Álvares Penteado, 112, centro, tel. 0/xx/11 3113-3652). R$ 15. 12 anos

2 comentários:

Serginho Tavares 1/6/09 16:05  

gostaria de ver essa peça
valeu a dica

Miguel Arcanjo Prado 5/6/09 12:51  

Ótima crítica.
Vou dar uma editada nesse texto e terei meu Agora Indica da semana que vem.
Abração!

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