Do começo ao fim, mas sem recheio

Entre julho e agosto deste ano, uma forte comoção e curiosidade passou a mover o público, principalmente gay, por conta do filme "Do Começo ao Fim", de Aluísio Abranches. A fita sobre dois irmãos homossexuais que se envolvem em uma relação incestuosa fez barulho não só pela temática, mas também por reunir um elenco estelar e global, com nomes como Fábio Assunção, Júlia Lemmertz e Louise Cardoso.

Infelizmente, o longa, que tem pré-estreia hoje, na abertura do 17º Festival Mix Brasil, e entra em cartaz nos cinemas no fim do mês, fica apenas na promessa. Da expectativa de um "Brokeback Mountain" à brasileira até a projeção, a decepção é grande.

A fotografia funciona, os atores fazem um trabalho, senão primoroso, honesto. Falta, porém, substância ao texto e, sobretudo, enredo. Não há conflito. O caso amoroso entre irmãos não é um problema, embora seja isso que o trailer (abaixo) venda, a todo instante.

Meio-irmãos por parte de mãe, Julieta (Júlia Lemmertz), Thomás (Rafael Cardoso) e Francisco (João Gabriel Vasconcellos) cresceram juntos em uma família abastada no Rio, do início dos anos 90. Thomás sempre admirou o irmão mais velho, Francisco, que por sua vez sempre protegeu o caçula. Pai, mãe, todos percebem um excesso de apego entre os dois (e alguns diálogos insinuam isso de maneira forçada).

Após vários momentos felizes da família --tão insistentemente marcados, que soam como propagandas de margarina--, ambos crescem, enfrentam algumas perdas e, pronto, entregam-se à ardente paixão. Thomás, então, recebe um convite para emigrar à Rússia, para treinar natação.

A partir daí, espera-se o drama de fato, mas nada acontece. Nem a distância geográfica dá fôlego ou ânimo à falta de história. Nesse caldeirão, o diretor coloca ainda uma mulher, o que poderia ser o vórtice de um (batido) mas instigante triângulo.

Novamente, fica tudo na intenção. Esse é o problema de "Do Começo ao Fim", estar cheio de boas intenções...