13.11.10

Cafajeste, o Rei


Se existem os heróis e as mocinhas, nenhuma cinematografia seria completa sem os canalhas. Charmosos, intransigentes, avessos à moral e firmes, essas figuras de pura testosterona catapultam --para o bem ou mal-- os ânimos da plateia.

Gecy Valadão (1930-2006), conhecido nacionalmente por sua alcunha artística Jece Valadão, foi em sua vida real e ficcional (até sua conversão evangélica, em meados dos anos 1990) o exemplo do cafajeste. E assim produziu, atuou, dirigiu, criou, amou e viveu...

Suas histórias, pensamentos e curiosidades do cinema brasileiro são reveladas na biografia, "Jece Valadão - Também Somos Irmãos" (São Paulo, 2010), parte da Coleção Aplauso, da Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. Escrita por Apoenan Rodrigues, a obra traz em tom confessional e em primeira pessoa a visão sensata que os anos conferem a experiências passadas.

Jece não nega, não oculta nem mesmeriza sua volúpia sexual, seu desapego à fidelidade, a ausência na criação de seus filhos e nem a sua controversa descoberta do divino. Homem de seu tempo, está imortalizado nas páginas de um contundente e belo livro.


Algumas frases de Jece Valadão:

"Olha, eu venci no mundo artístico, cheguei a um patamar no mundo artístico em condições excepcionais, mas nunca experimentei droga nenhuma, nunca fui alcóolatra e nunca tive uma relação homossexual."

"Também participei de várias orgias. Não vou citar nomes por uma questão de ética, evidentemente. Naquele tempo a gente fazia tudo que tinha direito, mas com categoria. Hoje em dia a gente sai de casa e não sabe se volta."

"Amigos mesmo, a gente conta nos dedos e sobra dedo que não acaba mais."

"Eu difundi o machismo."

"Porque a televisão é massificante. Então, eu sempre usei a televisão para me projetar."

"Eles querem fazer Nelson Rodrigues coberto de laquê, de seda pura. Nelson Rodrigues tem de ser coberto de pano de prato, com pano de lona, com pano de saco. É a mesma coisa que você querer tomar champanhe em caneca de barro. Não combina. Por isso que a Leila Diniz foi ícone, O Marlon Brandon, o James Dean. Eles impuseram as suas personalidades..."

"E nunca imaginei que um dia eu pudesse abraçar a ideia de sair pregando a palavra de Deus. Depois, eu descobri que a vontade nunca é nossa. A vontade é de Deus. (...) Eu era ateu por convicção intelectual, materialista até a medula, machista por conveniência."


2 comentários:

FOXX 13/11/10 16:28  

"machista por conveniência" podia ser o título do livro.

Serginho Tavares 13/11/10 18:51  

Foi uma pena depois de ter construído toda uma carreira ter destruído tudo isso ao ir pro lado negro da força com essa coisa de pregar palavra de Deus. Como se Deus se importasse com isso...

Beijão amigo sumido

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